DESPERTAR A RESPONSABILIDADE
A parábola dos talentos é um relato aberto que se presta a leituras diversas. De facto, comentadores e predicadores interpretaram-no com frequência num sentido alegórico, orientado em diferentes direcções. É importante que nos centremos na actuação do terceiro servo, pois ocupa a maior atenção e espaço na parábola.
A sua conduta é estranha. Enquanto os outros servos se dedicam a fazer frutificar os bens que lhes confiou o seu senhor, o terceiro não lhe ocorre nada melhor do que «esconder debaixo de terra» o talento recebido para o conservar seguro. Quando o senhor chega, condena-o como servo «negligente e preguiçoso» que não entendeu nada. Como se explica o seu comportamento?
Este servo não se sente identificado com o seu senhor nem com os seus interesses. Em nenhum momento actua movido pelo amor. Não ama o seu senhor, tem-lhe medo. E é precisamente esse medo que o leva a agir procurando a sua própria segurança. Ele mesmo explica tudo: «Tive medo e fui esconder o meu talento debaixo de terra».
Este servo não entende em que consiste a sua verdadeira responsabilidade. Pensa que está a responder às expectativas de seu senhor, conservando o seu talento seguro, mas improdutivo. Não sabe o que é uma fidelidade activa e criativa. Não se envolve nos projetos do seu senhor. Quando este chega, diz-lhe claramente: «Aqui tens o teu».
Nestes momentos em que, ao que parece, o cristianismo de não poucos chegou a um ponto em que o primordial é «conservar» e não tanto procurar com coragem caminhos novos para acolher, viver e anunciar o seu projeto de reino de Deus, temos de escutar atentamente a parábola de Jesus. Hoje diz-nos a nós.
Se nunca nos sentimos chamados a seguir as exigências de Cristo além do que sempre é ensinado e ordenado; se não arriscamos nada para fazer uma igreja mais fiel a Jesus; se nos mantemos alheios a qualquer conversão que nos possa complicar a vida; Se não assumimos a responsabilidade do reino, como o fez Jesus, procurando «vinho novo em odres novos», é que necessitamos de aprender a fidelidade activa, criativa e arriscada à qual nos convida a sua parábola.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez