MEDO EM ACREDITAR
Os homens quase sempre preferem o que é fácil e passamos a vida tentando evitar o que exige verdadeiro risco e sacrifício. Recuamos ou nos fechamos na passividade quando descobrimos as exigências e lutas que acompanham a vida com certa profundidade.
Temos medo de levar a sério a nossa vida, assumindo a nossa própria existência com responsabilidade total. É mais fácil «instalar-se» e «continuar», sem nos atrevermos a afrontar o sentido último da nossa vida diária.
Quantos homens e mulheres vivem sem saber como, porquê ou para onde. Estão aí. A vida continua, mas, por enquanto, que ninguém os incomode. Estão ocupados com o seu trabalho, ao fim do dia espera-os o seu programa de televisão, as férias aproximam-se. O que mais há para procurar?
Vivemos tempos difíceis e de alguma forma temos que nos defender. E então cada um vai procurando, com maior ou menor esforço, o tranquilizante que mais lhe convém, embora dentro de nós se vá abrindo um vazio cada vez mais imenso de falta de sentido e de cobardia para viver a nossa existência em toda a sua profundidade.
Por isso, os que facilmente se dizem crentes deveriam escutar com sinceridade as palavras de Jesus: «Por que sois tão covardes? Ainda não tendes fé?». Talvez o nosso maior pecado contra a fé, o que mais gravemente bloqueia o nosso acolhimento ao evangelho, seja a covardia. Digamos com sinceridade. Não nos atrevemos a tomar a sério tudo o que o evangelho significa. Temos medo de ouvir os chamados de Jesus.
Com frequência é uma covardia oculta, quase inconsciente. Alguém falou da «heresia disfarçada» (Maurice Bellet) daqueles que defendem o cristianismo até de forma agressiva, mas que nunca se abrem às exigências mais fundamentais do Evangelho.
Então o Cristianismo corre o risco de se converter apenas em mais um tranquilizante. Um conglomerado de coisas que devem ser acreditadas, coisas que devem ser praticadas e defendidas. Coisas que, «tomadas na sua medida», fazem bem e ajudam a viver.
Mas então tudo pode ser falsificado. Pode-se estar a viver a «própria religião tranquilizadora», não muito distante do paganismo vulgar, que se alimenta de conforto, dinheiro e sexo, evitando de mil maneiras o «perigo supremo» de nos encontrarmos com o Deus vivo de Jesus, que nos chama à justiça, à fraternidade e à proximidade com os pobres.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez