MARIA, A MÃE DE JESUS
Após um certo eclipse da devoção mariana, provocado em parte por abusos e desvios notáveis, os cristãos voltam a interessar-se por Maria para descobrir o seu verdadeiro lugar dentro da experiência cristã.
Não se trata de recorrer a Maria para ouvir «mensagens apocalípticas» que ameaçam com terríveis castigos um mundo afundado na impiedade na incrença, enquanto ela oferece a sua proteção materna aos que façam penitência ou rezem determinadas orações.
Também não se trata de fomentar uma piedade que alimente secretamente uma relação infantil de dependência e fusão com uma mãe idealizada. Já há algum tempo que a psicologia nos alertou contra os riscos de uma devoção que falsamente exalta Maria como «Virgem e Mãe», favorecendo, no fundo, o desprezo pela «mulher real» como eterna tentadora do homem.
O primeiro critério para comprovar a «verdade cristã» de toda a devoção a Maria é ver se leva o crente de volta a si mesmo ou se o abre ao plano de Deus; se o faz retroceder a uma relação infantil com uma «mãe imaginária» ou se o impulsiona a viver a sua fé de forma adulta e responsável em seguimento fiel a Jesus Cristo.
Os melhores esforços da mariologia actual procuram levar os cristãos a uma visão de Maria como Mãe de Jesus Cristo, primeira discípula do seu Filho e modelo da vida autenticamente cristã.
Mais especificamente, Maria é hoje para nós um modelo de acolhida fiel de Deus a partir de uma postura de fé obediente; exemplo de uma atitude serviçal ao seu Filho e de preocupação solidária com todos os que sofrem; mulher comprometida com o «reino de Deus» predicado e impulsionado pelo seu Filho.
Nestes tempos de cansaço e pessimismo descrente, Maria, com a sua obediência radical a Deus e a sua esperança confiante, pode levar-nos a uma vida cristã mais profunda e mais fiel a Deus.
A devoção a Maria não é, portanto, um elemento secundário para alimentar a religião de pessoas «simples», inclinada a práticas e ritos quase «folclóricos». Aproximarmo-nos de Maria é, pelo contrário, colocarmo-nos no melhor lugar para descobrir o mistério de Cristo e recebê-lo. O Evangelista Mateus recorda-nos Maria como a mãe do «Emmanuel», ou seja, a mulher que nos pode aproximar de Jesus, «o Deus connosco».
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez